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A Natureza do Conhecimento: Realismo e Idealismo

Segundo Augusto Saraiva (1972: 223) o realismo é a doutrina segundo a qual, no acto do conhecimento o “sujeito apreende, por intuição directa, um objecto que é independente e distinto dele”. Ao entender de Nicolla Abbagnano (2007: 164) o conhecimento verdadeiro, na perspectiva realista, “seria a coincidência ou correspondência entre nossos juízos e essa realidade”.

Assim, o realismo como concepção filosófica segundo a qual “existe uma realidade exterior, determinada, autónoma, independente do conhecimento que se pode ter (ou saber) sobre ela”. No plano da crítica do conhecimento, o realismo designa toda a filosofia para a qual “há um dado, um conjunto de coisas distintas do espírito e explicando o conhecimento”.

Há assim, duas teses a considerar no realismo: existência dos objectos como realidade distintas do sujeito; apreensão perceptiva, directa dessa realidade. Segundo Saraiva (1972: 223) distingue dois graus ou espécies no realismo:

  • Realismo ingénuo: admite que as coisas são tal qual as apreendemos, cujos são nos dados pela percepção sensorial “como uma copia fiel do mundo externo”. O realismo ingénuo é atitude própria do homem comum, para quem o conhecimento não constitui problema. E é claro que não precisa nenhuma reflexão.
  • Realismo crítico: concebe o conhecimento não como cópia (pois para sabermos se o conhecimento é copia do real seria imprescindível conhecer o real sem ser por essa mesma cópia), mas sim, “como uma interpretação, uma construção do real, isto é, como meio de atingir para além do sensível a realidade oculta (inteligível) que por detrás do sensível se esconde”.

O Idealismo

Em sentido geral, “idealismo significa dedicação, compromisso com um ideal sem preocupação parética (real), ou sem visar sua concretização imediata” (ABBAGNANO, 2007: 98). Do ponto de vista da natureza do conhecimento, o idealismo implica a redução do objecto do conhecimento com o sujeito conhecedor.

O Imaterialismo de Berkeley

Jorge Berkeley filósofo irlandês (1685-1753). A sua obra fundamental é o Tratado sobre os princípios do entendimento humano. Segundo Berkeley “a realidade do mundo dos objectos materiais está apenas na existência destas como ideias”, seja na mente de Deus, ou na do homem. A realidade material, as coisas ficam assim reduzidas às nossas percepções. “Esse est percepi”: “objecto e percepção são idênticos, não podem separar-se um do outro”, afirma Berkeley. Esta é a doutrina do imaterialismo, enquanto “nega a existência de objectos materiais”, como causas das nossas percepções.

Enquanto “nega a existência de qualidades primárias (objectos) e reduz a realidade exterior à representação que temos dela” (esse est percipi), Berkeley mantém-se fiel ao princípio idealista da imanência do objecto. Este sistema, geralmente é designado por “idealismo integral”.

O mundo de Berkeley quer o “mundo das coisas” ou o “mundo das imagens” é tal qual apresenta-nos. Quer dizer: o conhecimento foi concebido por ele como cópia de objectos, à maneira do senso comum. Assim, e no fundamental, Berkeley mantem-se fiel a tradição da filosofia inglesa do primado das sensações (empirismo) e o seu suposto idealismo é classificado de realismo de imagens.

O Idealismo formal de Kant

Com Kant, voltamos à questão formulada por ele nestes termos: colabora o sujeito na construção do objecto? E em que medida? Kant responde estas perguntas com a noção de matéria e forma. Em todo o conhecimento, segundo Kant existe um elemento material que é dado do exterior (experiência), ao sujeito, e um elemento formal que vem do próprio sujeito: de onde a designação de “Idealismo formal”. Portanto, o conhecimento é a síntese desses dois elementos.

O que é acessível, o mundo da experiência é a realidade “refractada” através das formas da Sensibilidade (espaço e tempo) e “unificada” pelas categorias do intelecto (qualidade, relação e modalidade). Ao objecto, apreendido na percepção, chama Kant de o fenómeno (o que aparece, o que se revela). Quanto à realidade em si, inacessível ao conhecimento, chama a realidade nomenal ou simplesmente, o nómeno.

Valor do Conhecimento: Relativismo e Absolutismo.

O Relativismo

Em Teoria de Conhecimento dá-se o nome de relativismo a um conjunto de doutrinas que têm em comum a afirmação de que “todo o conhecimento é relativo”: ou porque depende do modo de conhecer (válido em função do sujeito) relativismo subjectivo ou porque é limitado a determinadas regiões do individuo (relativismo objectivo) (SARAIVA, 1972: 237).

Protágoras e o Relativismo Sensorial

Protágoras é considerado, do ponto de vista do conhecimento, um relativista. Protágoras defendia de que “cada tema havia um argumento a favor e outro contra”. No Teeteto de Platão, Protágoras defende a sua tese mais famosa, a ideia de que: “o homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não”.

Protágoras defende a tese de que em assuntos como política, moral, religião, saúde, o individuo é a medida, isto é, não existe nada além daquilo que cada um percebe em seu campo de visão, audição. Essa filosofia gera um relativismo, uma perspectiva que leva em conta apenas aquilo que a sensibilidade de uma pessoa capta. Portanto, para Protágoras “não existe conhecimento objectivo valido e que as coisas são relativas de quem as vê”. Exemplo: a água que parece a um individuo quente, pode parecer ao outro como fria. (Idem: 238).

Kant e o Relativismo fundamental

A novidade do formalismo kantiano, é que veio “afectar de relativismo o próprio conhecimento conceptual”. Ora, com a doutrina das formas e das categorias, o conhecimento torna-se duplamente relativo: em função do sujeito que apreende o objecto, através das formas da sensibilidade, e interpreta mediante as categorias do intelecto; em função do objecto que só é apreendido enquanto fenómeno, ficando-nos para sempre inacessível a realidade nomenal, o objecto em si.

Assim, o carácter universal e necessário do conhecimento racional, no sentido de que ele se impõe coactivamente a todos os espíritos, Kant recusa-lhe o valor absoluto, ao negar que nos seja acessível a realidade como tal. Portanto, a verdade de Kant será apenas uma verdade formal e humana.

Augusto Comte e o Relativismo Positivista

Segundo Comte, o homem é capaz de um conhecimento válido (objectivo e certo) desde que se limite ao estudo dos fenómenos, ao seu “como”, isto é, às suas leis. Neste ponto, Comte rejeita o relativismo de Kant para o qual o próprio mundo dos fenómenos, apreendido através das formas de espaço e tempo já aparece com relativismo subjectivo.

Porém, para lá dos limites da experiência, nenhum conhecimento certo é possível (relativismo objectivo). Enquanto admite a existência de uma ordem de natureza sobrenatural inacessível ao espírito humano, o positivismo rejeita a possibilidade metafísica.

O Relativismo Pragmático

O pragmatismo é uma doutrina cuja enfatiza que todas as ideias devem ter um efeito prático. Seu principal representante principal é William James, não obstante que, seu primeiro autor foi Charles Peirce. O fim do conhecimento não é a verdade, mas a eficácia, isto é, o valor de verdade de uma ideia mede-se pelas suas consequências práticas. O que é verdadeiro diz James é o que é vantajoso seja sob que forma for.

Assim, uma teoria científica será verdadeira se nos permite agir sobre os fenómenos (prevê-los, produzi-los, preveni-los). Para James, a verdade de uma ideia só pode ser verificada pelo seu resultado prático, ou seja, pela sua utilidade, pois segundo o pragmatismo, o homem foi feito para acção.

O Absolutismo

Absoluto diz-se daquilo que não comporta nenhuma excepção ou restrição. Igualmente diz-se do que é em si e por si, independentemente de qualquer outra coisa, possuindo em si mesmo sua própria razão de ser, não comportando nenhum limite e sendo considerado independente de toda a relação com outro (JAPIASSÚ & MARCONDES, 2001: 7).

Em Teoria de Conhecimento o Absolutismo afirma a objectividade do conhecimento, como também, lhe confere um valor absoluto. Outrossim, não restam dúvidas sobre o valor do conhecimento e não apresenta nenhum limite.

Bibliografia

  • ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Martins Fontes. 2007.
  • JAPIASSÚ, Hilton. & MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª Edição. R. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
  • SARAIVA, Augusto. Filosofia: segundo os programas do ensino Liceal. Lisboa, 1972.

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