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TOLTECAS: origem, evolução, histórica, social, política, cultural, científica e religiosa

Origem dos Toltecas

O I milénio d.C. foi, no México, o período das civilizações "clássicas". Quatro núcleos culturais principais brilham então com fulgor incomparável: o território dos Maias ao sul, com grandes cidades como Palenque, Yaxchilán, Copán, Piedras Negras, Uxmal, Labná; Monte Albán e Mitla, no território dos zapotecas de Oaxaca; El Tajín no actual estado de Veracruz; e Teotihuacán no planalto Central.

Os traços considerados Toltecas de têm origem no Epiclássico. Para o entendimento da problemática que envolve o termo Epiclássico (700-950 d.C.) é necessário correlacioná-lo com as transformações vivenciadas pelas culturas mesoamericanas decorrentes do processo de declínio, entre os séculos VIII e IX, daquele que é considerado o primeiro centro urbano da Mesoamérica:Teotihuacán, situado nas terras altas do México Central. Segundo Millon (1981) citado por (Navarro, 2007), Teotihuacán, em seu apogeu, teria influenciado todas as civilizações da Mesoamérica. Quando a cidade entra em colapso, por razões ainda não muito bem conhecidas, as repercussões deste processo abalam a organização dos centros urbanos de toda a Mesoamérica e em todos os aspectos. Estes argumentos, se correctos, levam à proposição que, com o fim da hegemonia teotihuacana, a Mesoamérica sofreria as mais profundas transformações ao longo de sua história.

As primeiras tribos a povoar essa região eram nómades e chegaram no século X dC, sob o comando do chefe Mixcóatl, quando os Toltecas se fixaram na porção norte do altiplano mexicano onde fundam sua capital Tula ou Tollan
A localização de Tula e faz notar que os Toltecas "povoaram a ribeira de um rio junto ao pueblo de Xicotitlan, o qual agora tem o nome de Tula y de haver morado e vivido ali juntos existem sinais das muitas obras que ali fizeram". Ademais Linhas de pesquisa da Universidade de Missouri nos EUA, do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) e da Universidade Autónoma de México (UNAM) no México confirmam a correspondência entre os lugares citados nas fontes antigas e a região geográfica de Tula no estado de Hidalgo.

A forma urbana expressa em ambos os núcleos (Tula Chico e Tula Grande) são compatíveis com o modelo básico de Teotihuacán (praça da Pirâmide da Lua) uma praça quadrangular com quatro laterais edificadas, com acesso pelo meio de uma das laterais. Esse modelo, exportado por Teotihuacán, repetiu-se intensamente por toda a Mesoamérica, constituindo-se em um dos elementos representativos do Sistema Mundo Mesoamericano.

Organização social

A sociedade Tolteca era bastante complexa, a população de Tula se agrupava em bairros, onde os conjuntos habitacionais que abrigavam famílias extensas tinham nos templos seu núcleo espacial urbano, sendo residências comuns. Em geral os templos eram erigidos nos lugares mais elevados.

A estratificação social Tolteca estava organizada em classes onde no topo encontrávamos os sacerdotes (chamados carregadores de Deus). Eles conduziam sobre os ombros a efigia de Deus tribal Uitzilopochtli, divindade solar representada por um colibre. Esses sacerdotes constituíam um governo da tribo: acreditava-se que Uitzilopochtli, falasse com eles, que por sua vez transmitiam as ordens de deus. Em seguida encontrava-se a classe dos Guerreiros que agrupavam-se em ordem totémica e para além de exercerem suas funções, auxiliavam os sacerdotes nas suas actividades e na base a comunidade tribal composta por agricultores, artesãos, comerciantes e outros.

Os sacerdotes ocupavam o topo da pirâmide inicialmente, mas depois da fundação da cidade capital Tula o império passou para as mãos dos militaresOs militares e funcionários ocupavam a classe média que sem levar muito tempo os militares arrancaram o poder aos sacerdotes. Os agricultores, artesãos e escravos ocupavam a base e tinham a obrigação de produzir para auto sustento e prestar serviços a classe dominante.

Os primeiros imigrantes Toltecas, ainda bárbaros e pouco numerosos, tenham aceitado durante mais ou menos um século, de certo modo voluntariamente, a hegemonia de uma classe sacerdotal originária de Teotihuacán e fiel à tradição teocrática da era clássica. Mas, com a chegada de sucessivas vagas migratórias provenientes do norte, esse frágil equilíbrio iria se romper. Os indígenas do norte traziam consigo novas ideias e novos ritos: a religião astral, o culto da Estrela da Manhã, a noção de guerra cósmica, os sacrifícios humanos e uma organização social militarista. Todo esse complexo está simbolizado no deus-feiticeiro Tezcatlipoca, deus da Grande Ursa, do céu estrelado, do vento nocturno e protector dos guerreiros.

Organização Política

O traço mais característico da organização sociopolítica Toltecas foi a formação de um novo sistema teocrático, no qual as funções guerreiras se confundiam com as religiosas e as prerrogativas da classe sacerdotal passavam às mãos dos dirigentes militares, agrupados em ordens totémicas como as do Jaguar, do Coiote e da Águia. Esta circunstância não só permitiu a criação de um poderoso exército e a consequente expansão do império, como marcou também o começo do militarismo na América Central.

Economia

O império Tolteca era fortemente ligado à terra e baseava a sua economia na agricultura em que plantavam cereais, como é o caso do milho, dedicaram-se na produção de artesanato e desenvolveram a metalurgia e a ourivesaria, o que lhe permitiu manter contactos comerciais com os outros povos. E para administrar suas amplas possessões, criaram uma eficiente burocracia e o primeiro sistema de correios da região, empregando mensageiros.

Partícipe do Sistema Mundo Mesoamericano, Tula construiu uma extensa área de influência desde o centro do México até a região do Bajío, da Costa do Golfo, da península de Yucatán chegando inclusive à Guatemala, Tula obteve boa parte de seus recursos económicos da exploração das minas de sal a sudeste da cidade. Além do sal extraíram basalto e riolita para abastecer as manufacturas de artefactos de pedra como navalhas, facas, pontas de projécteis, etc. O barro retirado das margens do rio Tula era de muito boa qualidade e abastecia as manufacturas de cerâmica que, além dos tradicionais braseiros e incensórios, "fabricavam tubos destinados à drenagem urbana". Assim a produção de sal, de basalto, de alimentos e de cerâmica foram seu passaporte para o Sistema Mundo Mesoamericano.

Rotas comerciais

As rotas de longa distância e o comércio passam por significantes mudanças após o ano 700 d.C. Certas rotas comerciais obtiveram hegemonia à custa de outras, a rede de comércio de Teotihuacán durante o Horizonte Médio ou Clássico com o norte e oeste do México sofreu um declínio e a restauração Tolteca do comércio com estas terras nos séculos X e XI aparentemente segue diferentes rotas e direcções.

Os Toltecas estabeleceram uma próspera rota dos comércios de turquesa com a civilização setentrional de Pueblo Bonito actual México. Os comerciantes trocavam penas de aves apreciadas pelo Pueblo bonito, enquanto faziam circular pelos seus vizinhos mais próximos, todos melhores produtos que o México podia oferecer.

Os Toltecas tinham certa predilecção por objectos de outras regiões, como instrumentos de obsidiana, peças de Jade e Turquesa; cerâmica de Soconusco e da zona do Golfo. Vasos de Nicoya, Costa Rica, foram encontrados na unidade habitacional El Canal, em Tula Grande. Também encontraram-se braseiros e incensórios, figurinhas e flautas. Todos esses objectos reflectiriam a variedade e a complexidade das actividades realizadas nestes locais; comprovando por mais esta via a inserção de Tula no Sistema Mundo Mesoamericano.

Religião

Havia uma grande diferença entre estes e os povos que ali encontraram, neste caso os Maias que cultuavam os seus deuses Tlaloc, Deus da chuva e da água e Quetzalcoalt e a serpente de pulmas , o Deus do vento. O povo Tolteca fundou uma cidade, Tula, que ficou muito tempo sob o domínio Maia. Eles acreditavam que Quetzalcoalt fosse um homem-deus muito justo, convertendo assim a divindade em uma realidade.

A ideia da crença no retorno da divindade por outro, o facto de que os Toltecas eram politeístas e a sua religião foi dominada por duas grandes divindades: o primeiro, Quetzalcoatl, é mostrado como uma serpente emplumada. Esta divindade de sabedoria, cultura, filosofia, fertilidade, santidade e gentileza foi absorvida a partir de culturas anteriores na área e se opunha a sacrifícios humanos colectivos dedicando se ao culto de Deus da chuva. Contudo seu rival era Tezcatlipoca, o espelho fumado, conhecido por sua natureza guerreira e da tirania, adorava a estrela da manha Vénus que exigia mortes humanas para voltar a aparecer de manha.

O Quetzalcóatl humano, governante, teria nascido entre os séculos IX e X dC, perto de Xochicalco e fazia parte de uma Dinastia Real tendo vingado o assassinato do rei seu pai e tomado posse de "sua herança como rei dos Toltecas". Foi um período de grande desenvolvimento para seu povo. Após muitas décadas de governo, um grupo rival toma o poder e expulsa Quetzalcóatl e seus seguidores que vão para a Costa do Golfo e posteriormente a Yucatán; por conseguinte, a Chichén-ltzá.

O mítico rei sacerdote Quetzalcóatl representava a hegemonia teotihuacana e "proibia todo sacrifício humano e celebrava o culto do deus da chuva"; havendo trazido a Tula certo equilíbrio do poder que foi rompido quando sucessivas ondas de povos do norte trouxeram uma organização social militarista aos Toltecas.

Arquitectura

A sociedade Tolteca era bastante complexa. Tratava-se de uma monarquia dinástica composta por uma classe dominante com diferentes grupos nobres cujas necessidades políticas, militares, económicas e religiosas, às vezes conflituantes, resultavam em edificações de grandes porte e ampla utilização.

Ao palácio queimado (Tula chico) como uma das estruturas mais estudadas de Tula e dele foram extraídas peças essenciais para a compreensão do modo de vida e dos valores Toltecas. Composto por três amplas salas com colunas feitas com pedaços de pedras recobertas por estuque, usadas para sustentar a cobertura de madeira. Em cada sala se construiu um impluviumou pátio interno aberto, que funcionava como colector de água, área de ventilação e entrada de luz. O acesso a cada uma destas salas era independente, sem comunicação entre si".

Por outro lado do centro monumental de Tula Grande saiam ruas e calcadas que organizavam espacialmente a cidade. López (2007), explica que as residências mais importantes foram construídas em plataformas desde a praça principal até o rio; tinham aproximadamente 30 x 30 m e eram semelhantes aos conjuntos residenciais de Teotihuacan. As residências de alta hierarquia possuíam "espaços mais elaborados e cómodos com comunicação por amplas salas interiores, que tinham como característica principal a presença de colunas em uma disposição planificada". Já as residências comuns não seguiam o modelo teotihuacano, eram casas menores, agrupadas em conjuntos de três ou quatro com um pátio central.

Entretanto Tula recebeu uma influência directa de Teotihuacan, elaborou e desenvolveu os elementos arquitectónicos e urbanísticos teotihuacanos imprimindo também sua marca. As principais ideias teotihuacanas foram adoptadas: no urbanismo a agrupação dos templos e pirâmides ao redor de pátios abertos no já mencionado esquema de praça quadrangular com três lados edificados; já na arquitectura foi o modelo talud-tablero e as pilastras quadradas de Teotihuacan que se tornaram tão apreciadas pelos Toltecas. As extensas colunatas passaram a ser a marca registrada da arquitectura tolteca, fruto do desenvolvimento de uma ideia formal advinda da observação das estreitas galerias teotihuacanas.

Escultura

Neste domínio destaca-se escultura monolítica chamada Chac-Mool que foi encontrada numa das salas do Palácio Queimado. Este elemento é genuinamente Tolteca: representava um homem deitado com as pernas dobradas, a cabeça virada para o lado e os ombros altos, como em um movimento de levantar-se. Também na outra Sala foram encontrados frisos decorados com guerreiros usando atributos de Tláloc, culto de origem teotihuacana, posteriormente também levado a Yucatán pelos Toltecas. A figura a seguir testemunha a descrição acima feita.

A partir de inovações que ocorrem após o Clássico, encontram-se muitos sítios compartilhando novas formas arquitectónicas como as quadras de jodo de bola, os edifícios com esculturas de crânios e as estruturas colunadas. O sacrifício humano está proeminentemente representado nas artes plásticas destes sítios, embora tenha sido amplamente praticado antes de 700 d.C.

Apogeu do império tolteca

De acordo com as investigações do Projecto Tula as edificações administrativas de Tula Chico parecem haver sido incendiadas em meados de 900 dC. A zona de Tula Chico é abandonada e o centro da cidade se desloca 1,5km a sudeste, no lugar mais elevado da região. Justamente no início do período de ouro de Tula Grande (900 d.C. a 1150 d.C), a chamada Fase Tollan.A semelhança entre as representações de personagens da elite em Tula Chico e Tula Grande indicam que provavelmente as instituições centrais da dinastia real tolteca já existiam em Tula Chico, dois séculos antes da expansão da cidade durante o Pós-Clássico Inicial (séculos X e XI dC).

Colapso do império Tolteca

O declínio do império Tolteca está associado às crescentes invasões dos povos Chichimecas e a destruição de Tula no século XII. Contudo os Toltecas continuaram existindo em Yukatán onde houve uma fusão Tolteco-maia que sobreviveu até a chegada dos espanhóis.

em 1168, sucumbindo a dissensões internas e à invasão de novos imigrantes, a cidade de Tula foi saqueada e abandonada. Importantes contingentes Toltecas continuaram, porém, estabelecidos em outras cidades, principalmente em Colhuacán, às margens do lago, e em Cholula, centro de peregrinação em honra à Serpente de Plumas. Assim, a tradição Tolteca, a língua e os costumes de Tula conservaram-se apesar da queda da cidade. A derrocada do poderio Tolteca provocou um profundo abalo em todo o mundo autóctone da época. A notícia dos novos acontecimentos transmitiu-se necessariamente de um lugar para outro, de tribo para tribo, até a longínqua Aztlán. De toda parte, através das zonas áridas e das serras, tribos bárbaras puseram-se em marcha para o sul.

Por um lado ao facto de que sempre os corações povo Tolteca viveu o seu deus divinoQuetzalcóatl, e por um lado tal como muitos impérios na América e no mundo em geral quando desmoronam, mesmo florescendo outros no seu lugar as suas culturas prevalecem.

O declínio iniciou por volta de 1160, pois a cidade estava quase completamente despovoada, devido as secas, guerras e conflitos internos. A chegada dos povos bárbaros conhecidos como chichimecas, precipitou a queda do império. Em 1168, os Toltecas abandonaram Tula, que foi tomada pelos chichimecas e acabou destruída, em guerras e conflitos políticos. Os Toltecas que sobreviveram à ira dos inimigos fugiram para outras regiões do México, alguns grupos emigraram para as zonas lacustres do vale do México e fundaram Culhuacan, enquanto outros avançaram para o sul e ocuparam Cholula, por volta de 1290. Esses povos permaneceram na região até meados do século XIV.

Legado histórico deixado pelos Toltecas

Filosofia, objectos, memórias, relatos, formas arquitectónicas e planos urbanísticos foram os principais elementos exportados por Tula para toda a Mesoamérica. A importância de Tula também se deve a que existem dados etno-históricos sobre diversos aspectos de sua história e de sua cultura: nomes de reis, relatos sobre a fundação da cidade, assim como de sua conquista e decadência. Tula se converteu no protótipo de diversas instituições e conceitos religiosos do povo mexicano.

Tula serviu de suporte para a divulgação das idéiasteotihuacanas às quais agregou as suas próprias. Independentemente da rota de influências, Tula estava enquadrada no Sistema Mundo Mesoamericano, contribuindo para sua manutenção.

Bibliografia

  • AMARAL, Tarsila de & DI CAVALCANTI, Murais.Homem, natureza, cultura e história.sd;
  • BETHELL, Leslie. História da América Latina: América Latina Colonial. V. 1, 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004.
  • CHAVES, Luciane Azevedo. História das Américas I, Sobral, 1ª ed, 2016.
  • GOLDWASSER, MARIA JÚLIA. A Civilização Maia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora Ltda, 1987.

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