Diagnóstico dos distúrbios da linguagem
Aneja (1999) indica alguns sinais de alerta para desordens da linguagem na criança, tais como: nenhuma palavra emitida até os 18 meses; não colocação de duas palavras juntas aos 2 anos; ausência de desempenho imitativo e simbólico aos 2 anos; não formação de sentenças aos 3 anos; discurso incompreensível aos 3 anos. Oller e cols. (1999) mostraram que o balbuciar produzido por volta dos 10 meses de idade, quando atrasado, pode prognosticar desordens da fala. Balkwin (1968) mostra que, por volta dos três anos, a criança já deve se expressar oralmente, entretanto, um leve retardo nesta idade não é incomum, O atraso na linguagem e/ou fala pode ocorrer três vezes mais em meninos do que em meninas. Classificar os distúrbios da linguagem que se expressam através das alterações da fala não é tarefa fácil, nem tampouco há consenso na literatura. Diferenciam- se os distúrbios do desenvolvimento da fala e/ou linguagem em orgânicos e não orgânicos. Nos orgânicos, ocorreria uma falha nos órgãos periféricos e/ou no sistema nervoso central. Já os não orgânicos envolveriam questões ambientais e emocionais. O principal problema do falante tardio parece estar no domínio da formulação da linguagem, que tem sido visto como um processo superior ou cognitivo, enquanto a execução é um processo inferior ou motor.
Podemos ter desarranjos no falar ou no aparelho fonador causados por lesões no sistema nervoso central, no sistema nervoso periférico ou por anormalidades estruturais, levando a um falar anormal, embora a linguagem possa estar normal. Atrasos da linguagem podem ocorrer devido a vários problemas, tais como: retardo mental, perda auditiva, atraso na maturação, desordem expressiva da linguagem (afasia), bilinguismo, autismo, mutismo eletivo, paralisia cerebral e deprivação psicossocial. Estudos descrevem como sendo a perda auditiva e o retardo mental as duas causas mais frequentes de dificuldade na aquisição da linguagem e/ou fala. As habilidades da linguagem e fala dependem da integridade neuromuscular, do sistema sensorial, das influências do meio e das condições emocionais da criança; desta forma, além dos fatores maturativos, torna-se indispensável uma relação adequada e efetiva da criança com o ambiente com o qual ela interage. Na avaliação dos quadros de alteração do desenvolvimento de linguagem e/ou fala, é imprescindível comparar a etapa do desenvolvimento linguístico com o contexto geral do desenvolvimento sensório-motor e cognitivo da criança, para que se trace uma avaliação global das suas capacidades e aquisições. Vários autores utilizam o termo Impedimentos Específicos da Linguagem (Specific Language Impairments – SLI) quando se referem a crianças com distúrbios da linguagem cujas dificuldades são específicas dos aspectos linguísticos, isto é, a alteração da linguagem é primária e não decorrente de uma outra alteração, como deficiência mental, deficiência auditiva, entre outras. Em relação aos quadros de SLI, é importante a diferenciação entre retardo e distúrbio da linguagem.
A afirmação de que uma criança tem um retardo da linguagem implica em que comportamentos específicos da linguagem surgem ou se desenvolvem de forma lenta, mas a criança adquire os comportamentos na mesma sequência observada no desenvolvimento normal, e o grau de retardo é basicamente o mesmo para todos os fatores e aspectos da linguagem. O termo “distúrbio da linguagem” implica em um desvio do padrão usual de aquisição de um ou mais de seus aspectos, em graus variados, interrompendo a sequência normal do desenvolvimento.
Bibliografia
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- VYGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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