INTRODUÇÃO
O presente trabalho possui como panorama a obesidade infantil, patologia definida pelo excesso de gordura corporal em crianças, de prevalência crescente a nível mundial, e de carácter epidemiológico, considerada actualmente um dos principais problemas de saúde pública, acometendo países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Os objectivos do presente estudo foram descrever sobre as principais causas que podem
influenciar a obesidade infantil e a importância da intervenção nutricional; definir a obesidade infantil e seu diagnóstico; evidenciar a importância da prevenção, através de recomendações nutricionais adequadas e prática de actividade física; e destacar a importância
nutricionista no combate à obesidade infantil.
Assim, destacam-se os agentes causais da obesidade infantil e a prevenção e o tratamento
precoce, a fim de evitar possíveis complicações futuras para esta faixa etária.
2. MÉTODOS
Os métodos utilizados consistiram em uma revisão de literatura, a partir de artigos, revistas
e livros, obtidos do catálogo referencial da Faculdade ESEFAP/UNIESP. Utilizou-se também,
artigos científicos de revistas eletrônicas, através de sites de busca como Scielo, Bireme,
Biblioteca Virtual da Saúde, Pubmed, e Periodicos Capes, em língua portuguesa, utilizando-
-se os descritores para recuperação de dados: obesidade infantil, sobrepeso, epidemiologia, complicações e alimentação.
O trabalho foi elaborado através de uma pesquisa exploratória e descritiva, reunindo materiais dos últimos quatorze anos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. OBESIDADE INFANTIL
3.1.1. Conceitos
De acordo com Fisberg a obesidade infantil é uma enfermidade que pode desenvolver-
-se desde os primeiros meses até o décimo segundo ano de vida, definida pelo acúmulo
excessivo de tecido adiposo, de origem multifatorial, cujo desenvolvimento sofre influência
de fatores biológicos, psicológicos e socioeconômicos.
O desenvolvimento da obesidade origina-se de um desequilíbrio energético que ocorre
quando o número de calorias consumidas é superior ao número de calorias utilizadas para
a obtenção de energia, ocasionando ganho ponderal
Segundo Mello, Luft e Meyer4
, além do desequilíbrio entre a ingestão e o gasto calórico, a
inatividade física também é um fator determinante, que juntamente com a ingestão excessiva de calorias, correspondem de 95 a 98% dos fatores exógenos associados ao ganho
de peso. E em menor proporção, os autores consideram distúrbios pré-existentes como
fatores endógenos (5%) para o desencadeamento da obesidade.
A obesidade está inserida no grupo das Doenças e Agravos Não-Transmissíveis (DANTs),
caracterizado por doenças com história natural prolongada, múltiplos fatores de risco, especificidade de causa desconhecida, com curso clínico em geral lento, prolongado e permanente, manifestações clínicas com períodos de remissão e exacerbação, lesões celulares irreversíveis e evolução para diferentes graus de incapacidade podendo levar ao óbito5
.
3.1.2. Diagnóstico
O Índice de Massa Corpórea (IMC) é utilizado para o diagnóstico da obesidade no adulto,
mas o seu uso em crianças e adolescentes é inadequado, sendo necessária a utilização de
outros meios.
Segundo a Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), os índices nutricionais adequados
para a faixa etária pediátrica recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
e adotados pelo Ministério da Saúde de 0 a 36 meses e de 2 a 10 anos, que abrangem:
peso por idade (P/I) – que expressa a massa corporal para a idade cronológica, de grande
utilidade para o acompanhamento do crescimento infantil; altura por idade (A/I): aponta o
crescimento linear da criança, considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida; peso por altura (P/A) mostra a harmonia entre as dimensões de massa corporal
e altura, sendo sensível para o diagnóstico de excesso de peso, porém, faz-se necessário
medidas complementares para o diagnóstico preciso de sobrepeso e obesidade.
.
Para o diagnóstico de obesidade em crianças a OMS indica a utilização das curvas americanas de IMC do National Center for Health Statistics (NCHS), específicas para cada sexo.
Assim, a partir do ano de 2009 a Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição
(CGPAN) do Ministério da Saúde do Brasil adotou tais curvas (GRÁFICOS 1 a 4), que incluem o IMC desde o lactente até os 19 anos de idade, considerando sobrepeso percentil ≥
85 e < 97, obesidade percentil ≥ 97 e < 99,9, e obesidade grave percentil ≥ 99,9, apresentados na Tabela 18.
3.1.3. Fatores de Risco e Complicações Associados à Obesidade Infantil
O sedentarismo vem sendo fortemente relacionado ao excesso de peso e ao aumento das
taxas de mortalidade por todas as causas, devido aos hábitos inadequados como redução
do número de refeições e a não realização do café da manhã
De acordo com Dias e Campos,11 entre os fatores associados à dieta que mais contribuem
para o aumento das taxas de sobrepeso e obesidade infantil entre os brasileiros estão a
alimentação fora do lar, o aumento da oferta de refeições rápidas e o consumo de alimentos
processados e industrializados.
O desmame precoce e o crescente número de crianças que não receberam o aleitamento
materno vem sendo associados à obesidade, pois, segundo estudo de Minossi et al.,
foi detectada uma prevalência de obesidade de 4,5% em crianças que nunca haviam sido
amamentadas e de 2,8% naquelas que não receberam o aleitamento exclusivo até os seis
meses de vida, levantando-se a hipótese de que o aleitamento materno possui efeito protetor contra a obesidade.
O IMC materno também vem sendo relacionado à obesidade infantil, pois quanto mais
elevado o IMC da mãe, maior a chance da criança apresentar excesso de peso12.
Entre as complicações decorrentes da obesidade na fase pediátrica estão: problemas articulares; cutâneos; gastrintestinais; de crescimento; respiratórios; e psicossociais, envolvendo sofrimento psicológico decorrente do preconceito social e discriminação devido ao
comportamento alimentar 14.
Segundo Dias e Campos,10 as doenças endócrino metabólicas são as mais associadas à
obesidade infantil como o diabetes melittus tipo 2, em que cerca de 90% de seus casos
estão associados ao excesso de peso.
Neste contexto encontram-se também as doenças cardiovasculares, que representam a
principal causa de mortalidade da população brasileira, onde a elevação da pressão arterial
está relacionada à duração da obesidade, ou seja, o risco de desenvolver hipertensão torna-
-se maior conforme a permanência no estado de obesidade15. E na infância, este risco é preocupante, visto que, de acordo com Rech et al.16 há uma considerável relação entre excesso
de peso, níveis elevados de pressão arterial, perfil lipídico e depósito de gordura corporal.
.
3.1.4. Infl uências na Obesidade Infantil
A obesidade infantil está relacionada com a inatividade física, presença de televisão, computador e videogame nas residências, e má alimentação resultante de dietas com baixo
consumo de verduras e frutas17.
Os comerciais de TV exercem elevada influência no comportamento alimentar de crianças
e, em sua maioria, anunciam alimentos com elevados índices de gorduras, óleos, açúcar e
sal, extremamente contrários às recomendações de uma dieta saudável e balanceada para
a criança18. Nesse sentido, as entidades governamentais em todo o mundo procuram controlar as propagandas de alimentos, principalmente aquelas destinadas ao público infantil19. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceu a resolução
24/2010 que dispõe sobre os requisitos mínimos para propagandas de alimentos, com
o objetivo de impedir práticas excessivas que levem o público, principalmente o infantil,
a padrões de consumo incompatíveis a uma alimentação adequada. Assim, a resolução
restringe os comerciais de alimentos considerados com quantidades elevadas de açúcar,
de gordura saturada, de gordura trans, de sódio, e de bebidas com baixo teor nutricional20.
3.1.5. Prevenção
Para a prevenção da obesidade infantil, vários aspectos devem ser considerados, como:
os diferentes contextos sociais, culturais, escolares, regionais, alimentares e a prática de
atividade física21.
De acordo com os níveis de prevenção, a prevenção primordial ou primária, encontra-se
entre as mais efetivas, com o objetivo de evitar que as crianças desenvolvam o sobrepeso,
devendo ser iniciada antes da idade escolar e mantida durante a infância e a adolescência,
já a prevenção secundária se propõe a impedir as complicações decorrentes da obesidade
e reduzir a co-morbidade entre crianças obesas4
.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem elaborado políticas de promoção à saúde direcionadas a população infantil, como: o Programa Saúde na Escola, o Programa Nacional
de Alimentação Escolar, a Regulamentação dos Alimentos Comercializados nas Cantinas
Escolares, o Projeto Escola Saudável, a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas,
os Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas e a Regulamentação
de Propaganda e Publicidade de Alimentos, no intuito de corrigir os hábitos alimentares
não saudáveis e evitar o comprometimento da saúde na infância e na vida adulta19.
3.1.6. Tratamentos
A obesidade infantil possui diversos tratamentos e a escolha do tratamento deve se basear
na gravidade do problema e na presença de complicações associadas. O principal objetivo
da perda de peso é reduzir ou adequar a quantidade de gordura corporal para diminuir o
risco de complicações futuras .
A reeducação alimentar a partir da adoção de uma alimentação saudável, voltada para a
adequação da quantidade de calorias, as preferências alimentares, o aspecto financeiro e
o estilo de vida, juntamente com a atividade física são aspectos importantes para o tratamento da obesidade infantil.
A perda de peso melhora o perfil lipídico e diminui o risco de doenças cardiovasculares,
sendo que a ingestão alimentar da criança está diretamente relacionada à dos pais. O tratamento dietético deve ser iniciado após os dois anos de idade, e em caso de dislipidemias,
devem-se priorizar as necessidades energéticas e vitamínicas próprias à idade.
.
3.2. ALIMENTAÇÃO E ACTIVIDADE FÍSICA
3.2.1. Recomendações Nutricionais
Uma boa alimentação requer displina na ingestão alimentar que consiste em fixar o horário
das refeições para melhor funcionamento do organismo; fracionar a alimentação 5 ou 6
vezes ao dia; evitar alimentos calóricos como fast-food, refrigerantes, salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, doces e sorvetes; e consumir mais vegetais, hortaliças, frutas,
além da ingestão hídrica.
As recomendações nutricionais são como metas para o estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis, que propiciem todos os nutrientes necéssarios ao crescimento e desenvolvimento da criança de acordo com a idade6
.A pirâmide alimentar é um guia geral para uma população acima de dois anos de idade, que
demonstra como deve ser a alimentação diária para uma população saudável.
3.2.2. Atividade Física
A inatividade física, o aumento do consumo de alimentos energéticos e a influência de comerciais de produtos alimentícios altamente calóricos, apresentam fatores determinantes
para o desenvolvimento da obesidade.
“Um estilo de vida sedentário é o comportamento decisivo e mais importante na relação
entre o excesso de peso e a mortalidade. Uma vida sedentária, por si só, aumenta as taxas
de mortalidade por todas as causas”.
De acordo com Viunisk a atividade física é parte essencial integrante do programa de
perda peso e deve tornar-se permanente para um estilo de vida saudável. Os benefícios da
atividade física podem incluir: queima de calorias, perda de peso, manutenção da tonificação dos músculos, aumento da taxa do metabolismo, melhoria na circulação e funções
cardíacas e pulmonares, aumento do autocontrole, redução do estresse e depressão, aumento da habilidade de concentração, melhoria na aparência, melhoria na qualidade de
sono, entre outros.
Em contrapartida, a inatividade física é um fator preocupante para o desenvolvimento da
obesidade, pois o gasto energético durante a atividade física pode representar entre 15% e
50% do gasto total, dependendo da quantidade de atividade física desenvolvida e da massa
corporal do indivíduo10. Assim, o exercício físico mais indicado para crianças é aquele que
pode ser feito diariamente adequando-se a esta faixa etária, onde as atividades não devem ser
de modo punitivo e nem competitivo, e o hábito da atividade física deve ser seguindo durante
toda a vida, pois o exercício físico regular pode prolongar a vida e torna-la mais saudável.
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