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A Chegada dos primeiros Asiáticos em Moçambique

É no povoamento proto-banto que já se dispersava pelo litoral nos meados do primeiro milénio d C que se insere um factor exógeno que veio iniciar profundas transformações: o advento dos navegadores asiáticos, oriundos da Indonésia, Arábia, Pérsia e índia. 

Pesquisas arqueológicas recentes, situam no Sec. VI a chegada dos primeiros povoadores à grande ilha de Madagáscar. Seriam Indonésios já misceginados com Africanos, o que demonstra a sua permanência, embora relativamente breve, na costa oriental. Investigadores como R. Mauny e J. S. Trimingham manifestam-se favoráveis à hipótese de os Waq-Waq referidos pelos autores persas e árabes haverem alcançado simultaneamente Madagáscar e Moçambique. Esse estranho povo que Al-Masudi, em 916 d.C., situou precisamente ao sul de Sofala, esclarecendo que mantinha contactos com o sudeste asiático, pode ter permanecido por alguns anos em portos e abrigos situados entre os rios Save e Limpopo. Além de outras possíveis contribuições (sobretudo em plantas alimentares) há um famoso instrumento que vários musicólogos afirmaram ser directamente proveniente da Indonésia, instrumento que atinge a sua mais elevada expressão artística e técnica na costa meridional de Moçambique: o xilofone. É, porém, altamente improvável que essa eventual permanência indonésia seja responsável pelo início das trocas comerciais. Até ao presente, os mais antigos vestígios de contactos directos ou indirectos entre o ultramar e o distante planalto interior surgiram em Mabveni. (Sec VI), Makuru (Sec. VII) e Gokomere (Sec. V e VII). São constituídos por conchas marinhas e por missangas cilíndricas, azuladas e esverdeadas, de origem indiana. 

Segundo D. W. Phillipson, os espólios arqueológicos estudados até ao presente levam a concluir que, nessa época, os contactos com o mundo ultramarino afectavam unicamente a região aurífera planáltica entre o Limpopo e o Zambeze — e respectivas rotas comerciais — tendo Sofala como seu principal porto marítimo. Mesmo na África Oriental, a apenas 30 km do oceano, e, igualmente, no sul do Malawi, nos numerosos sítios abundantes em olaria dita «Kwale» e «Nkope», quase não apareceram materiais de proveniência costeira. Apenas em Matope, no Alto Chire, foi encontrada uma missanga azul e metade de uma concha cauri. A mesma situação prevalece no planalto a sul do Limpopo. 

Aí, no entanto, por mais espantoso que pareça, foram escavados em Pont Drift 1/2 (22° 14' Sul, 29° 09' Este) e datados dos Sec. IX e XII restos do roedor, Rattus rattus, adição à fauna local provavelmente introduzida através das descargas das embarcações asiáticas. A hipótese, durante muito tempo contestada, dessa antiga presença asiática no litoral sul de Moçambique, acaba finalmente de ser confirmada pelos vidros, porcelanas e missangas coloridas encontrados em Chibuene, baía de Vilanculos. Seriam do Séc. VIII d.C. 

As consideráveis distâncias, as difíceis comunicações, os condicionalismos geográficos, a escassa densidade e o rudimentarismo tecnológico das populações da Idade Antiga do Ferro inclinam-nos a defender a hipótese de que as operações de extracção aurífera no distante planalto se iniciaram séculos depois do histórico momento em que os tripulantes de qualquer desgarrada embarcação obtiveram por troca as primeiras pepitas de ouro, possivelmente usadas como adorno pelos assombrados nativos que com eles contactaram em qualquer praia entre o Save e o Zambeze. 

É possível que a procura de ouro na costa africana esteja relacionada, com o expansionismo que caracterizou a dinastia persa dos Sassanidas (226-640 d.C.) durante a qual a arte da ourivesaria atingiu admirável desenvolvimento. Sabe-se, pelo menos, que a partir de 570 d.C, data da ocupação do lémen, os Sassanidas passaram a controlar completamente a produção da costa oriental da África. O porto mais importante e cosmopolita do Golfo Pérsico era Siraf, que servia  o rico planalto interior do Xiraz. Por ali exportavam, anualmente, cerca de cem mil cabeças de gado cavalar. 

As invasões árabes iniciadas cerca de 640 d.C. e as profundas transformações políticas subsequentes não prejudicaram esse comércio africano. A ascenção dos califas Abassidas em 750 d.C. e a transferência da capital para Bagdad acelerou o tráfico marítimo propriamente islâmico. A arqueologia já encontrou provas concludentes desta presença na costa oriental, como, por exemplo, em Quilua o dinar de ouro datado de 789, mandado cunhar por um vizir de Harun-al-Rachid.  

Abu Zaid, mercador em Siraf, de 887 a 915, fez referência às relações com Zanzibar (terra de Zanj, isto é, dos Negros). Busurg (c. 922) deixou referido o comércio esclavagista entre a costa de Sofala e Oman. Al-Masudi descreveu a rota de alto-mar seguida pelos barcos persas e omanitas para atingir Zanzibar, Sofala e o país Waq-Waq. Visitou, em 916, o litoral de Zanj, cujo limite meridional era Sofala.  

A prosperidade deste empório islâmico atingiu o seu apogeu, juntamente com Xiraz, de 923 a 1062 d. C. graças à reconquista efectuada pelos príncipes persas. Intensificaram-se as relações comerciais com a China, a índia e a África. 

A emigração para Quilua, do príncipe Ali Bin Sultan El Hassem, filho do Sultão de Xiraz e de uma escrava negra, parece ter tido lugar em 975.

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