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A guerra como um factor agravante da crise de 1977-1981 em Moçambique

A guerra como factor agravante da crise
O discurso oficial apresentava os factores externos e a guerra como as causas fundamentais da crise económica. Os termos de troca crescentemente desfavoráveis no mercado externo, a inflação importada e a crise do capitalismo internacional, eram alguns dos factores apresentados para justificar as dificuldades económicas do país. As causas internas referidas pelo governo eram geralmente a guerra, a redução dos serviços aos países da região devido às medidas da África do Sul, os períodos de seca. Sem ignorar estes factores e sem considerá-los como secundários, este trabalho ressalta os aspectos relacionados com o modelo interno.


Não existia consenso sobre as origens da guerra. O discurso oficial apontava as situações coloniais e o apartheid então prevalecentes na África Austral como os factores desestabilizadores da região e os incentivadores da guerra em Moçambique. Os serviços secretos rodesianos eram apontados como os criadores da guerrilha anti-governamental. A África do Sul e a Rodésia de Ian Smith, por seu lado, defendiam o poder branco, manipulavam o perigo comunista em pleno apogeu da guerra fria e invadiam militarmente o território moçambicano “em perseguição dos terroristas” dos respectivos movimentos de libertação. A RENAMO, já nos fins da década dos 80, procurava legitimar a guerra apontando o regime autoritário da FRELIMO, o sistema de partido único, a ausência de democracia, os abusos de poder e a corrupção do governo. A RENAMO utilizou as medidas de política económica que produziam situações de insatisfação para a mobilização das populações. Os casos de coerção verificados na mobilização governamental para a construção das aldeias comunais, a inacessibilidade à terra pelos camponeses, as hostilidades em relação às empresas públicas no meio rural, a crise do abastecimento, os casos de actuações autoritárias dos poderes locais, as más relações entre a FRELIMO e as antigas “autoridades gentílicas” e com a sociedade civil “tradicional”, foram alguns dos elementos mais utilizados para justificar e alimentar a guerra.

Seria possível não haver guerra?. Nas condições regionais e internacionais existentes, a guerra era quase que inevitável. Todas as partes, à escala nacional, regional e internacional procuravam impôr os seus modelos, defender os seus interesses e aumentar as suas zonas de influência política e económica. As raízes do ciclo da violência estavam contidas nos regimes da região e na conflitividade existente entre eles: por um lado o colonialismo e o apartheid e por outro lado, os regimes de orientação socialista em Moçambique e Angola. O radicalismo político de ambos os lados eram resultantes de todos estes factores e alimentavam-se mutuamente.


Existiria crise económica sem a guerra?. O autor deste trabalho defende que o modelo económico e sobretudo as formas radicais da sua aplicação contêm intrinsecamente muitos dos factores da crise económica e social moçambicana. A guerra é considerada como um factor agravante e cuja propagação e reprodução foi, em grande parte, facilitada pela crise económica. Por outro lado, a crise e a guerra reforçaram-se mutuamente. O que se pode questionar é se a crise, numa situação de paz, teria sido tão profunda e se teria atingido situações tão traumáticas. A resposta seria possivelmente negativa.

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