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O Estado dos Mutapas (Mwenemutapas)

Em 1607 surgiu uma conjuntura que afectou a autonomia que os monarcas procuravam conservar perante a desmedida ambição dos Senhores dos Prazos. Na sequência da invasão e ocupação de parte dos seus domínios por dois grupos maraves, o Mutapa Gatsi Rusere teve que recorrer ao auxílio dos prazeiros. Também para eles apelou quando quis castigar alguns dos seus próprios súbditos, revoltados após ter mandado executar seu tio, importante dignatário com o título de Nengomacha, que acusou de falta de combatividade perante os invasores. Um tal Ohiraramuro, parente do Nengomacha executado, conseguiu sublevar os Tauaras. Batido esse instigador, a rebelião prosseguiu sob o comando de Matuzevianhe, guardador-mór das manadas reais. Gatsi Rusere, imprudentemente, tomou depois a decisão de atacar os Báruès e os Tongas do Baixo Zambeze. Prestes a ser esmagado em três frentes, foi salvo pelo Senhor de Prazos, Diogo Simões Madeira, a quem teve que fazer largas concessões. Em 1609 o atrabiliário monarca ganhou forças para submeter as terras da Chicoa (Chicova) e aniquilar definitivamente Matuzevianhe. Até 1624 tentou, em vão, receber as curvas retroactivas (entretanto elevadas para 15 000 cruzados anuais) acenando com promessas sobre as minas de prata descobertas na Chicoa.

 Seu filho Capararidze tomou, em 1628, a enigmática decisão de mandar executar o enviado do Capitão de Moçambique que, após anos de suspensão, lhe levava finalmente a curva. Simultaneamente, ordenou o mupeto, ou confiscação de todas as mercadorias dos comerciantes de nacionalidade portuguesa. 
Mas as rivalidades internas prosseguiam sem cessar. Um dos tios do Mutapa, Mavura de seu nome, aliou-se aos missionários dominicanos, quase todos de origem goesa, tentando arrebatar o poder. Em 1629 conseguiu o seu intento, graças ao auxílio militar prodigalizado pelos prazeiros. Em troca gratificou-os com desastrosas concessões. Teve repercussões especialmente profundas e duradoiras a sua renúncia à jurisdição sobre os súbditos portugueses, a qual transitou para o Capitão das Portas, agora subordinado, em teoria, à Coroa de Portugal. Mas como este dignatário não dispunha de força ou autoridade para fazer respeitar a lei e a ordem, os prazeiros e outros aportuguesados insubmissos e donos de exércitos privativos lançaram-se em desenfreadas violências. Apoderaram-se de gado e minas de ouro, intensificaram o tráfico esclavagista, abriram novas feiras protegidas por aringas, retiraram aos chefes a possibilidade de comerciarem em tecidos e missangas. Não raro guerreavam entre si, agravando a condição das populações indefesas que reagiram, emigrando para o centro e sul do planalto. 

Capararidze tentou aproveitar-se do descontentamento popular para organizar um levantamento contra os prazeiros, em 1631, mas foi, sem demora, derrotado e obrigado a refugiar-se em território marave. Falecido Mavura em 1652, teve seu filho Domingos que esmagar a revolta de um dos irmãos. Em 1663 foi deposto e assassinado pelos prazeiros e pelos seus adversários. O sucessor, Afonso de baptismo, corresponde aproximadamente à imagem do Mucombuè, conservada pelas tradições orais. 
Foi a partir daquela última data que os Mutapas perderam o seu domínio sobre o rico território planáltico de Mucaranga. Mas conseguiram manter o vale a sul do Zambeze, aproveitando o desinteresse dos prazeiros pelas terras já devastadas e despovoadas.
Em 1673 acicatou-se a cobiça dos prazeiros e outros moradores, na sequência de redobrados rumores sobre a existência de prata na Chicoa. Mucombuè, desesperado, mandou matar seis desse goeses e mestiços e pediu assistência militar ao chefe supremo dos Manicas, Chicanga de seu título.

Foi durante o período Mucombuè que ocorreu o levantamento do Changamire, guardador-mor das manadas reais. Os domínios que lhe têm sido atribuídos coincidem com o núcleo central moio, a sudeste da feira de Dambarare. Como oportunamente desenvolveremos, desafiou  e atacou os prazeiros em 1684, derrotou a força punitiva enviada pelo Mutapa e, mais tarde, iniciou a conquista do rico Estado de Butua- -Tórua, que ocupava a sudoeste do planalto. 
Mucombuè faleceu em 1693, sendo sucedido por seu irmão Nhacunembire. Decidiu este apelar para o Changamire Dombo para conter os desmandos dos prazeiros & outros potentados. Ambos atacaram a feira de Dambarare, cujos moradores foram massacrados. Seguiu-se o ataque à feira de Massapa, entretanto evacuada. Bastaram estas duas operações para levar os restantes «súbditos» portugueses a abandonar  o planalto e a refugiar-se em Tete, Zumbo, Sena e Manica. 
Não têm fundamento histórico os alegados ataques do Changamire Dombo a Tete, Sena e Sofala.

Aulas de Moz

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