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O Reino de Teve

Manuel Barreto remonta aos fins do Sec. XV a data em que este reino se separou do Estado dos Mutapas: «...entrando nós (i.e.por oca- sião da primeira viagem de Vasco da Gama) se lhe rebelou um irmão menor com o império de Quiteve». Não se sabe se esta secessão foi duradoura. 
É possível que haja alguma relação entre o Teve e o segundo Inhacouce referido por António Fernandes, em 1513-14, sito a seis dias de jornada antes de Manica: 
«...é capitão-mor do rei de Monomotapa; tem grande terra e todas as segundas-feiras fazem na sua terra feiras a que chamam feiras de «sembaza» onde os mouros vendem todas as suas mercadorias e às quais acodem também os cafres de todas as terras. E assim tem muitos mantimentos. Dizem que aquela feira é tão grande como a de ver tendes e não há outra moeda senão ouro por pesos.» 
Os excedentes agrícolas deste reino, bem como a sua riqueza em ouro e marfim, celebrizaram-se durante séculos. 
No decurso de seis décadas pouco se sabe do que aconteceu neste reino, cujos monarcas tinham o título de Sachiteve. Podem citar-se vagas referências como a de Luís Fróis (1561): «criado alevantado» (i.e.servidor rebelde dos Mutapas). 

Desembarcada em Novembro de 1574, a célebre expedição de Vasco Fernandes Homem prosseguiu ao longo do Buzi. O Sachiteve, quando soube que os expedicionários se apoderavam, pela força, de géneros alimentícios, exigiu-lhes, em vão, que entregassem as armas. Na sequência do ataque que contra eles desencadeou na Serra Sitatonga, viu as suas forças desbaratadas e a sua capital incendiada. Após a conhecida permanência em Manica, V. F. Homem regressou a Sofala em Setembro de 1575 onde, em troca da formal declaração de submissão, restituiu ao monarca vencido a rainha principal, três filhos e um dos irmãos que havia tomado como reféns. Mas não lhe regateou a habitual curva, em recompensa dos protestos de lealdade e do compromisso de não interferir com as rotas comerciais. 
É possível que após o regresso do célebre Inhamunda e dos seus sucessores aos territórios ancestrais entre o Save e o Buzi, os Sachiteves tenham voltado a estender os seus domínios até à orla marítima entre o Buzi e o Tendaculo, actual Sambazo. Sabe-se, pelo menos, que no último quartel do século concederam a Rodrigo Lobo, juntamente com o título de «esposa real», uma ilha no vale do Buzi, a quatro léguas de Sofala. 
De 1586 a 1590 procediam mais como soberanos do que como vassalos. Tal se deduz daquela e de outras observações de João dos Santos, como a referente à grande embaixada anual que, com grande pompa e cerimonial, mandavam a Sofala cobrar a curva de 200 panos. 
Preciosas são as restantes informações prestadas por este missionário. Afirma que o reino foi o primeiro a tornar-se independente dos Mutapas, graças ao comércio mantido com Sofala. Alude às características sagradas dos monarcas, aos complexos rituais da corte e aos túmulos reais nas montanhas. Na sua viagem por terra verificou haver na região nordeste do reino mais ordem do que na faixa que os Mutapas procuravam controlar entre o Sambazo e o Zambeze para manterem o acesso ao mar. 


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