Devido às pesquisas intensivas e sistemáticas realizadas por uma missão de etnologia chefiada por J. Dias, pode considerar-se a cultura tradicional dos Macondes como a melhor conhecida em Moçambique. Também forneceu alguns elementos sobre a respectiva etno-história.
Apresentam certos traços culturais, como a escultura em madeira e o uso de máscaras nas cerimónias da puberdade, que os aparentam com o «círculo congolês do Sul», de Baumann. Além disso, as danças sobre andas, que se observam nos Macondes de Moçambique e de Newala, aparecem entre os Cheiras, de Moçambique, Zâmbia e Malawi e, também, no Congo e na Lunda. De facto, os Macondes têm outros traços comuns com os Gheuas (Chewa), que habitam actualmente a área a sul e sudeste do Lago Niassa que, grosso modo, corresponde à região que velhos Macondes dizem ter sido a sua pátria primitiva. Parece, portanto, que fizeram outrora parte dos proto-maraves. Tudo leva a crer, pois, que os Macondes provieram do sul do Lago Niassa e caminharam ao longo do Lugenda até se fixarem nas vizinhanças da confluência daquele rio com o Rovuma, nas imediações do Negomane. Essa tradição vem, certamente, de épocas muito recuadas.
Os Macondes não se recordam de ter tido guerras com qualquer povo, por ocasião dessa remota partida do Lago Niassa. Dizem que, quando chegaram, os planaltos estavam desabitados, mas ninguém sabe se as terras baixas estavam ou não povoadas. Alguns ainda hoje mencionam que os seus avós falavam na existência de homens anões. Mas ignoram onde e como viviam, apenas garantindo que habitavam fora do planalto. Mas se por essas tradições, nada podemos concluir, há indícios que permitem suspeitar terem os Macondes deparado com outros povos no seu caminho e de se haverem em parte miscigenado. Encontram-se indivíduos que pela estatura pigmóide e pelas feições, se distinguem dos restantes. Embora misturados com outros elementos étnicos e integrados na cultura maconde, esses exemplos permitem acreditar na preservação de um substracto pigmóide anterior à ocupação maconde.
Apesar da identidade de condições naturais e da explicação lógica que os Macondes dos planaltos de aquém e além Rovuma dão da sua origem onomástica, existe um certo etnocentrismo que impede que esse nome seja generalizado. Assim, os Macondes de Cabo Delgado dizem que os Macondes da Macomia são também Andondes (Ndonde). Por sua vez, os Macondes da Tanzânia chamam Mavia (Maviha) aos de Cabo Delgado, não lhes reconhecendo o direito à designação de Macondes. Estes explicam que o nome Mavia lhes foi posto por reagirem contra qualquer ofensa, recorrendo logo às armas. É evidente que estas distinções são meras expressões de etnocentrismo, que em nada contrariam a origem cultural básica deste povo. Contudo, o nome Mavia (ou Mawia, Mabiha, Maviha) foi usado pela grande maioria de autores estrangeiros que se referiram aos Macondes de Moçambique.
A diferenciação linguística que hoje existe entre os Macondes da Tanzânia e de Moçambique, e ainda entre estes e os Matambuès, prova que houve um longo processo de individualização que só foi possível com o decorrer de algumas gerações. Os próprios ritos da puberdade, que são uma das instituições sociais macondes mais importantes a distingui-los de outros grupos vizinhos, como Macuas e Ajauas, apresentam diferenças notáveis, o que confirma um longo período de evolução social independente.
Mesmo assim, o Maconde tem uma consciência mais ou menos perfeita da comunidade de cultura e das suas relações com outras culturas aparentadas, podendo deduzir-se uma ideia de comum origem pela maneira como perguntam se um indivíduo pertence a outro povo.
Assim, consideram-se aparentados aos Andondes, que habitam as margens do Rovuma, na região entre Mocímboa do Rovuma e Nangade. A língua também é semelhante, assim como certos hábitos e o uso do botoque (ndona) no lábio superior. Mas estes usavam enormes rodelas em buracos abertos nas orelhas que os distinguiam dos Macondes. Por sua vez, os Andondes do sexo masculino não praticam mutilações. Alguns dizem que os Andondes foram, outrora, Macondes. É, de facto, natural que tivessem modificado muitas das suas características individuais através das múltiplas influências que exerceram sobre as populações situadas no vale onde circularam povos aguerridos como os Angonis e onde a acção islamizante penetrou profundamente.
Outro povo que consideram irmão é o dos Matambuès; outrora numerosos, foram dizimados pelos Angonis, no século passado.
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