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Os Macuas, as Invasões Maraves e os Reinos de Maurussa e Mori-Muno

O «ma» na palavra «macua» não é um prefixo, mas faz parte integrante do nome. A sua ortografia aparece sob as formas mais díspares. Soares de Castro e Abel Baptista alegam que tanto «macua» como «macuana» são termos pejorativos, empregados pelos habitantes do litoral, «maca», para designarem os do interior. É possível que este último etnónimo reflita a antiga importância do comércio salino, já que significa comummente «sal» e «costa». Froberville, por seu lado, entende que «macua» significava «o que fabricava ferro», sendo aplicada pelos cacadores-recolectores locais, ainda na Idade da Pedra, aos primeiros imigrantes bantos. 

A organização familiar matricêntrica dos Macuas do litoral norte, perto da foz do Rovuma, mais afectados pela influência islâmica, ainda na década de 1940 era assim descrita por Gonçalves Cotta: 
«...a cabila (grande família composta de todos os descendentes de uma genearca) gozava de absolutos direitos sobre os seus mem- bros, quer estes fossem parentes por consanguinidade quer por afinidade... Era o clã. O velho chefe (n'zé) resumia todos os direitos e poderes: proprietário dos haveres adquiridos pela comunidade e juiz... (Mas) só podia exercer o direito de vida e de morte sobre os filhos de suas irmãs, jamais sobre os seus próprios; pois a família também não se desintegrara ainda completamente da forma matriarcal. Assim, o julgamento dos filhos cabia ao irmão mais velho da mãe.» 

Mais para o sul e o interior, nihimo é a palavra que designa o clã matrilinear. Os clãs dos macuas-lómuès eram tradicionalmente exógamos. Abel Baptista afirma que cada qual dispunha do seu nifulo, onde se invocavam os antepassados-deuses, sendo no ritual observada a precedência matriarcal. Em cada tribo o nifulo do chefe ficava perto da respectiva povoação e servia de local de culto não apenas aos membros do respectivo nihimo mas também, colectivamente, à tribo, em casos de calamidade publica. Também Soares de Castro e o P.e Gérard apontaram certas sobrevivências do clã como unidade orgânica. Este último autor aludiu, em especial, à existência de um cemitério comum para os indivíduos do mesmo nihimo e à investidura de um magistrado competente para resolver os litígios ocorridos no seu interior. As escarificações faciais eram utilizadas para distinguir os diversos clãs; como os inimigos eram por norma decapitados, desempenhavam a função prática de identificar as vítimas. As relações amigáveis entre dois clãs limítrofes, unavili, eram ritualizadas em casamentos, investiduras e funerais, por meio de alianças vituperativas. 

Não surpreende que sobre estes dispersos clãs matrilineares, se tenha imposto, no Sec. XVI, com relativa facilidade, a ocupação dos maraves dirigidos no norte pelo Caronga Muzura e no sul pelos monarcas com o título real de Rundo. A recordação destas conquistas maraves persiste em bastantes tradições orais. De resto, são confirmadas por abundante documentação portuguesa. 

Já aludimos à possível origem marave dos dirigentes que conseguiram unificar os clãs macuas da região do Uticulo ou Itoculo e fundar dois reinos que tiveram existência secular e levantaram obstáculos consideráveis à ocupação efectiva do interior pelas autoridades da Coroa Portuguesa. Foram os reinos cujos monarcas receberam os títulos hereditários de Maurussa e Mori-Muno. 

Após o massacre da coluna portuguesa ocorrido em 1585 o primeiro tornou-se o mais poderoso entre os chefes macuas. Todavia, escasseiam lamentavelmente os documentos escritos que façam menção às suas actividades. 


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