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O que é Autotranscendência?

Dos existencialistas, temos a destacar: Sartre, que deste escreveu um estudo na verdade pouco conhecido, que em seu titulo Transcendente de l’ Ego. No escrito que acabamos de mencionar, Sartre propôs em demonstrar que a autotrancendencia em como objectivo dar ao pour-soi (consciência) os dons de estabilidade, objectividade e concretude próprias do en-soi ( as coisas).

Para Heidegger citado por Mondin , a autotranscendência é constituinte fundamental do homem, o qual é por natureza existente, quer dizer, algo que está fora de si mesmo. O homem de facto caracteriza se pela ultrapassagem essencial da situação de facto em direcção as suas possibilidades ulteriores. A ultrapassagem na dialéctica de Heidegger desemboca inevitavelmente no nada, porque a morte é ultima possibilidade do homem.

Para Jaspers citado por Mondin, o homem toma consciência de auto transcendência sobretudo nas situações - limites (Grenz – Situationen). A dor, a luta, a angústia, a própria morte, mediante a sua inelutabilidade, põe instância de transcendência de si mesmos. Na mesma linha de Jaspers, o homem na transcendência diz somente que o seu ser está imerso num “ todo – circunscrevente” (das Umgreifende) que não encontra nunca expressão adequada em nenhuma das coisas intra-mundanas.

Na perspectiva de Marcel, o homem toma consciência do auto – transcendência especialmente nas situações – limite, na inquietação e na angústia. Será nesses estados de espírito que ele descobre a própria ruptura e a contradição entre o que é de facto e o que aspira a ser.

Os marxistas: os tradicionais marxistas repudiavam energicamente qualquer noção de transcendência, hoje se torna cada vez mais frequentes discípulos de Marx que vêem nesse conceito um instrumento fundamental para a compreensão do homem. Segundo Garaudy, a transcendência designa consciência da não realização do homem, a dimensão do infinito. Na transcendência, homem não é somente o que é, é também tudo o que não é, tudo o que ainda lhe falta; na linguagem dos cristãos, dir – se – ia, o homem é por si transcendente, isto é, em potência, todo o seu porvir, pós o futuro é a única transcendência que o humanismo conhece.

A esta transcendência dos cristãos, pode se entender como uma exclusão de baixo, a verdadeira missão de auto se afirmar em ser absoluto, de Deus e da revelação. Os pensamentos da existência são delas uma autêntica e uma apologia seriedade de existência.

De destacar Karl Popper, que afirma: auto transcendência é a característica fundamental do homem: nós continuamente transcendemos a nós mesmos, aos nossos talentos e as nossas qualidades. Esse auto transcendência é o mais extraordinário e importante de toda a vida e toda a evolução e especialmente a evolução humana. Na mesma perspectiva de Popper, a auto transcendência nas suas fases iniciais ou pré – humanas, ela naturalmente é menos óbvia, tanto que, de facto, pode erroneamente trocada com algo de semelhante a auto – expressão.

Dos pensadores católicos: auto transcendência como propriedade essencial do ser humano e como último fundamento da sua espiritualidade e sobrevivência depois da morte se ocuparam muitos estudiosos católicos do nosso tempo. Alem de Marcel, de quem se falou um pouco atrás fanado dos existencialistas, recordamos Blondel, Rahner, Metz, Boros, Barbotin, Lonergan e De Finance.
Temos a destacar os esforços de investigação de Maurice Blondel: ele investiga em toda a parte, mas a põe em evidência sobretudo no ser, no pensar e no agir do homem. Na questão do ser, ele entende que no ser do homem há antinomia profunda entre o que é e o que devia ser, antinomia insolúvel porque não consegue nunca se tornar o que gostaria de ser; em segundo lugar, entende o homem suplanta continuamente o horizonte dos conhecimentos já adquiridos e se lança para fins sempre altos. Aqui entende se que há um desequilíbrio entre a vontade que quer e a vontade querida, porque o resultado da acção não consegue nunca adequar o objectivo que o homem tinha se proposto quando começou a agir. A auto-transcendência, é o resultado da conquista pessoal, pode se ia atingi-la só gradualmente, um pouco de cada vez.

Como afirma Mondim, entender auto transcendência é movimento com que o homem ultrapassa sistematicamente a si mesmo, tudo o que é, tudo o que adquiriu, tudo o que pensa, quer e realiza. Mas a esse movimento, deve ser entendido que por cada sua realização, tem uma direcção, aponta para o objectivo. Dessa realização, ate pode – se emergir perguntas seguintes: o que quer tornar o homem projectando – se continuamente para alem da situação presente? Para onde está dirigida a auto transcendência? Dessas indagações, afirmamos que o ser humano é o primeiro e único animal a viver fora do natural, sendo esta, inclusive, uma tendência natural dele, ou seja, nós somos naturalmente anti-naturais. Expliquemos em que consiste essa anti – naturalidade. Nenhum outro ser vivo vê a natureza além do que ela é em si, ou seja, além do aspecto natural.

Quando uma vaca vê uma lagoa azul enxerga nela a possibilidade de saciar sua sede. Já o homem, além dessa percepção, pode também se encantar com aquela imagem, sentir uma paz interior, lembrar de amores do passado, enfim, a lagoa pode significar para ele milhares de coisas que não estão em seu significado original, porque vive fora do natural, ou seja, além do que o mundo lhe proporciona como matéria bruta. E desde quando é assim? Desde sempre.

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