Como vimos, o Estado de Gaza, fundado por Sochangane, tinha uma grande extensão, compreendendo regiões entre o Zambeze e o Maputo.
Muzila, filho e sucessor de Sochange, seguiu a politica do pai e preocupouse principalmente em conservar as fronteiras do Estado.
A política seguida por seu filho, Gungunhana, foi diferente.
Quando este toma o poder, transfere a capital de Gaza para Manjacaze e o Estado reduziu se à região compreendida entre os rios Púngoè e Incomáti. A atitude deste chefe explica-se por duas razões: a necessidade de ocupar melhores terras no vale do Limpopo e a necessidade de assegurar a soberania Nguni em toda a região a Sul do Save.
Os ingleses dominavam por esta altura o Transvaal. Como esta colónia não tinha saída para o mar, eles tentaram apoderar-se da Baía do Maputo. Para isso, quiseram transformar o Estado de Gaza numa colónia sua. Nasceu assim um novo conflito entre Portugal e a Inglaterra.
Gungunhana procurou aproveitar-se desse conflito para se opor à penetração colonial e continuar a chefiar o seu Estado.
Contava também com um forte exército, que organizara segundo os princípios militares dos Nguni.
- exército de Gungunhana estava dividido em Mangas (correspondentes a um batalhão actual), que eram comandados por Indunas.
- Cada Manga estava dividida em Mabanjas (correspondentes a uma companhia), comandadas por Mabanjas.
- chefe máximo dos Indunas era o próprio Gungunhana, cujo exército contava com cerca de 15 000 homens. Possuía 2000 espingardas.
- poderio de Gungunhana era suficientemente grande para causar preocupações aos portugueses. Por esse motivo, o governo português enviou um «Comissário Régio», chamado António Enes, chefe militar colonialista, com a tarefa de «pacificar os povos do Sul».
Na região do Maputo, havia tribos que se submeteram aos portugueses e outras que eram fiéis a Gungunhana, como por exemplo Manhiça, Magaia, Zixaxa e Moamba. Foi contra estes que os portugueses lançaram as suas tropas. Os portugueses aproveitaram um período em que havia contradições na tribo Magaia entre dois herdeiros: Maazul, que não aceitava a soberania de Portugal, e Maveja, que aceitava submeter-se a ela.
Tendo conhecimento que os portugueses estavam dispostos a auxiliar Maveja, Maazul aliou-se ao clã Zixaxa, dirigido por Mativejane, e avançou contra Lourenço Marques.
Apesar de bem defendida, conseguiram entrar na cidade, obrigando os portugueses a refugiarem-se na fortaleza. A cidade foi saqueada e a fortaleza atacada.
Entretanto, os navios de guerra portugueses atracados no porto bombardearam os atacantes, conseguido assim que se retirassem da cidade. Os seus chefes refugiaram-se na corte de Gungunhana.
Os portugueses ameaçaram então Gungunhana de que, ou ele entregava os chefes Maazul e Mativejane, ou haveria guerra. Gungunhana recusou.
Em Setembro de 1895, as tropas portuguesas avançaram em três colunas diferentes. Uma, pelo rio Incomáti, outra, pelo rio Limpopo e a terceira, a mais importante, por Inhambane, descendo o rio Inharrime. A coluna do Incomáti foi a primeira a entrar em combate com as forças de Gungunhana, em Magul, onde viviam os dois chefes. Enquanto estes abandonavam o local, travou-se um violento combate que os portugueses venceram.
Entretanto, saía a coluna de Inhambane, comandada por Mouzinho de Albuquerque, e que se compunha de infantaria e artilharia. Os portugueses voltaram a fazer a mesma ameaça. Gungunhana não aceitou entregar os dois chefes e reuniu todas as suas Mangas sob o comando do chefe militar Maguiguana, para combater as tropas portuguesas.
A batalha deu-se no vale de Coolela. Os portugueses vencem outra vez e espalham o terror no seio da população, incendeiam aldeias e massacram populações indefesas. Isto leva muitos chefes tribais a render-se.
Gungunhana, desmoralizado, refugia-se em Chaimite mas é traído, e os portugueses conseguem prendê-lo. Mais tarde será deportado para os Açores, com a sua família.
Mas Maguiguana, embora derrotado em Coolela, prossegue a luta.
Começou por atacar todos os pequenos postos militares que, entretanto, os portugueses tinham começado a construir. Causou a fuga e a desmoralização de muitos soldados portugueses.
Encorajado por estas vitórias, Maguiguana consegue o apoio de muitas tribos que tinham acreditado na superioridade dos portugueses, e resolve atacar Chibuto, importante guarnição militar dos colonialistas.
Alarmados, os portugueses chamam Mouzinho de Albuquerque, que se encontrava a combater no Norte contra os Namarrais.
A grande arma do exército português era a cavalaria. Maguiguana concentra as suas tropas na localidade de Macontene, etapa final do ataque a Chibuto.
Mouzinho de Albuquerque resolve ir ao encontro de Maguiguana. pois se ficasse em Chibuto e fosse cercado, de nada lhe serviriam os cavalos.
Em Macontene dá-se a batalha e Maguiguana sai derrotado. Os cavalos, devido à sua mobilidade, conseguem desorientar as tropas moçambicanas.
Maguiguana foge mas é alcançado nos Montes Libombos, quando estava prestes a atravessar a fronteira. Em vez de se render, como faziam muitos chefes, resiste matando inimigos até ele próprio cair morto.
Maguiguana é uma das grandes figuras da História de Moçambique, e o seu exemplo inspirou várias gerações. Maguiguana é um dos nossos heróis e precursores do nacionalismo moçambicano.
Enviar um comentário
Enviar um comentário