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Os Tongas do Baixo Zambeze

No Séc. XV este povo — cultural e linguisticamente bem distinto do chona-caranga— devia ocupar uma área bastante extensa, limitada a sul pelo Punguè, a norte e oeste pelo Zambeze e por todo o curso do Luenha, a leste pela extensa linha de terras baixas onde circulam os rios Zangue, Mucua, Mucombeze e Msicadzi. 
Duvidamos que este etnónimo tenha carácter depreciativo (os «escravos») e que haja sido aplicado a uma população submetida por quaisquer conquistadores, como pretende H. Phillipe Junod e outros. O relato de António Fernandes distingue claramente o «Reino de Betongua», distanciado três dias de jornada do Reino do Báruè, no itinerário para o Zambeze. De modo nenhum podemos concordar com a sua associação ao Reino de Teve que, como escrevemos, só poderá ter sido o Inhacouce, senhor da grande e famosa feira descrita pelo explorador. 
Falariam uma língua afim do actual Chi-Sena e Chi-Nhunguè. 
David Beach afirma que, numa perspectiva histórica, podem ser divididos em dois grupos principais: 
  • a) Os Tongas meridionais que, como descrevemos, foram domi nados por uma dinastia chona-caranga e vieram a formar o reino de Báruè; esta utilizou uma série de alianças matrimoniais com os con quistados,  combinadas com  a  nomeação de  um conselheiro-mor,  o mucomoaxa, do clã tembo, cujo cargo era hereditário e que durante os interregnos servia de regente. 
  • b) Os Tongas que continuaram enquadrados pelos seus chefes tradicionais e que resistiram aos Mutapas em 1550, à expedição de Francisco Barreto, em 1572, a Gatsi Rusere em 1608, a Diogo Simões Madeira em 1613, aos Senhores dos Prazos nas décadas de 1630 e 1660 e aos invasores angonis depois de 1830. 
Nós acrescentamos um terceiro grupo: os que foram «destribalizados» e absorvidos pela sociedade dos Prazos, vindo a participar na formação de etnias heterogéneas como Nhunguès, Senas e Chicundas. Nunca  foram  completamente  assimilados   pelos Mutapas  e  frequentes vezes contra eles se revoltaram. Sabe-se que nas conversações ocorridas em 1572 entre o Mutapa Nogono e o enviado português Miguel Bernardes, concordou o primeiro que a expedição comandada por Francisco Barreto submetesse os Tongas então revoltados contra o poder central e obstruindo as rotas comerciais. Tinha seu chefe o título de Samungazi, de onde derivou o termo «Mongazes» popularizado pelos Portugueses. Apesar do combate que perdeu (mas que levou a expedição portuguesa a bater em retirada) o ambicioso monarca voltou a levantar obstáculos ao livre trânsito comercial. Nogono, por sua vez, mandou um exército «atacá-lo, tendo perdido nessa campanha o seu próprio comandante-em-chefe. Todavia, afigura-se-nos que os insubmissos Tongas reduziram, ulteriormente, as suas veleidades de autonomia. O certo é que quando, em 1590, João dos Santos atravessou a região, reconheceu que dependiam politicamente do Mutapa, embora em manifesto estado de indisciplina. 
No extremo sudeste do país Tonga, o planalto de Inhanga foi ocupado desde o Séc. XVI por uma população dessa origem, que deixou extensos vestígios arqueológicos que se prolongam pelo território moçambicano. Construiu povoações de dois tipos: palhotas assentes numa grande plataforma circular, feita por dois muros concêntricos e aterrados, servindo o pátio interior de curral; palhotas agrupadas no interior de um amuralhado de pedra solta. Pelos cumes dos montes dispersavam-se vigias. A dominante preocupação defensiva levou ao cultivo irrigado das encostas em socalcos sustentados por muretes de pedra. Tratava-se, portanto, de uma adaptação trabalhosa a desfavoráveis condições de ambiente e segurança. O espólio arqueológico confirma a extrema pobreza dos habitantes.
 
É interessante recordar que João de Barros, na sua Década I, ao aludir à extracção aurífera em Manica, afirma que a mina de Matuca, sita entre a actual Penhalonga e o Révuè (portanto ao sul de Inhanga) era explorada por «Botongas». Caetano Montez, nas suas notas à obra de Hugh Tracey aventa que se trate de Thongas ou Tsongas do Sul do Save, o que consideramos totalmente inaceitável. 
 


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