Revolução de fevereiro de 1917 (1ª fase)
A causa imediata da Revolução Russa foram os efeitos desastrosos do envolvimento russo na I Guerra Mundial. Na qualidade de membro da Tríplice Entente, juntamente com a Grã-Bretanha e a França, o Império Russo entrou em guerra com a Alemanha e a Áustria-Hungria em 1914. Mas, embora seu gigantesco exército tivesse o apelido de “rolo compressor”, os russos não estavam à altura de seus adversários alemães. Estes impuseram às tropas do czar derrotas esmagadoras, que só não levaram a Rússia à rendição porque a Alemanha, dividida entre duas frentes de batalha (havia uma Frente Ocidental, contra ingleses e franceses), não pôde explorar suas vitórias a fundo. Mesmo assim, boa parte do território russo encontrava-se em poder dos invasores, principalmente a Ucrânia, cujo tchernoziom (terra negra) era considerado o celeiro do Império.
As pesadas perdas sofridas pelo exército, mais as dificuldades de abastecimento, somadas à alta do custo de vida e à ineficiência e corrupção administrativas, levaram o povo russo a uma situação de verdadeiro desespero. Assim, em fevereiro de 1917 (março, pelo calendário vigente nos países ocidentais), eclodiram manifestações em Petrogrado (novo nome de São Petersburgo), exigindo a saída da Rússia da guerra. As tropas da capital recusaram-se a reprimir os manifestantes e aderiram a eles. O czar Nicolau ll, que se encontrava em seu quartel-general, foi impedido de entrar em Petrogrado. Em questão de dias, a insurreição alastrou-se por todas as grandes cidades do Império. Como o príncipe-herdeiro era hemofílico, Nicolau ll preferiu abdicar em favor de seu irmão, mas este recusou o trono. Para que a Rússia não ficasse acéfala, a Duma organizou um governo provisório constituído de aristocratas e burgueses, sob a chefia do príncipe Lvov.
Tentando ganhar o apoio das massas, o novo governo adotou uma postura liberal, decretando anistia política. Com isso, milhares de prisioneiros foram libertados e centenas de exilados retornaram à Rússia. Entre eles, inúmeros revolucionários bolcheviques, liderados por Lenin. Imediatamente começaram a ser organizados sovietes de operários, soldados e camponeses, com vistas à realização da revolução socialista.
Recém-chegado do exílio, Lenine tentou um golpe de Estado em julho de 1917, mas falhou e foi obrigado a se esconder por algum tempo. O príncipe Lvov foi substituído na chefia do governo provisório por um advogado chamado Kerensky, do Partido Social-Revolucionário (apesar do nome, essa era uma agremiação política moderada), que gozava de uma certa popularidade. Mas esta se deteriorou rapidamente, devido à insistência de Kerensky em continuar a guerra contra a Alemanha, apesar dos anseios de paz da população e da impossibilidade de a Rússia poder sustentar um conflito militar de tais proporções.
Revolução de Outubro 1917 (2ª fase)
A Revolução de Outubro na Rússia é considerada a segunda fase da Revolução Russa de 1917,começando com o golpe de estado, liderado por Vladimir Lenine e pelos bolcheviques, contra o governo provisório, em 25 de outubro de 1917 (pelo calendário juliano) e 7 de novembro pelo calendário gregoriano. Foi a primeira revolução comunista marxista do século XX e deu o poder aos bolcheviques. Desde a Revolução de Fevereiro, a Rússia possuía dois governos paralelos, funcionando no mesmo palácio. Um chamado de Governo Provisório foi formado pela antiga Duma e adotou a forma parlamentar de governo. O outro era o Comitê Central do Soviete de Petrogrado, composto por socialistas de vários matizes, e com a predominância dos mencheviques em primeira hora. O Governo Provisório era francamente a favor da continuação da guerra. O Comitê Central carecia de consenso sobre esta questão. Entretanto, por não participar do Governo Provisório, pôde repetidamente culpá-lo pela situação caótica sob a qual o país vivia.
Em 20 e 21 de abril houve manifestações contra a guerra, e unidades militares se juntaram a estas, que assumiram o caráter de insurreição. Vários ministros se demitiram, e em 1 de Maio o comitê central, após votação, permitiu que seus membros participassem do Governo Provisório. Os bolcheviques foram contrários a isto. Seis socialistas se tornaram parte do gabinete, e Kerensky se tornou ministro da guerra. A partir daí, os bolcheviques se tornaram a oposição "oficial", enquanto que os agrupamentos socialistas participantes do governo se tornaram alvo das críticas direcionadas ao governo.
Os bolcheviques começaram um grande esforço de propaganda, triplicando a tiragem do Pravda em menos de um mês (de 100 mil cópias em Junho para mais de 350 mil em Julho). Outra tentativa de insurreição, liderada pelos bolcheviques, aconteceu entre 3 e 5 de Julho, mas sem sucesso. O comitê central adotou uma série de resoluções impedindo a prisão e julgamento dos bolcheviques. Sentindo sua fraqueza, o governo permitiu que vários fossem postos em liberdade. Em 20 de Agosto os bolcheviques ganharam um terço dos votos nas eleições municipais. A atividade dos sovietes diminuía e suas reuniões se tornavam menos concorridas. Enquanto outros partidos socialistas abandonavam os sovietes, os bolcheviques aumentavam sua presença. Em 25 de Setembro eles conquistaram a maioria na Seção Trabalhista do Soviete de Petrogrado e Trotskyfoi eleito presidente.
Após os acontecimentos de Julho, o General Lavr Kornilov foi apontado Comandante-em-Chefe do Exército Russo. Kornilov, assim como a maior parte da classe média russa, acreditava que o país estava se deteriorando e que uma derrota militar na guerra seria desastrosa para o orgulho e honra russas. Ele anunciou que Lenine e seus "espiões alemães" deveriam ser enforcados, os sovietes eliminados, a disciplina militar restaurada e o Governo Provisório deveria ser 'reestruturado'.Kerensky o demitiu em 9 de Setembro, por suspeita de que este pretendia criar uma ditadura militar. Kornilov respondeu com um chamado a todos os russos para que 'salvassem sua pátria moribunda' e ordenou a seus cossacos e chechenos que avançassem sobre Petrogrado, com a ajuda de especialistas e equipamentos britânicos. Sem poder confiar em seu próprio exército, Kerensky buscou ajuda na organização militar bolchevique, os Guardas Vermelhos. A população da capital mobilizou algumas milícias populares para defender Petrogrado. Muitas delas foram criadas com a ajuda dos bolcheviques. Estes também enviaram comissários aos acampamentos de Kornilov para disseminar sua propaganda. A tentativa de golpe de Kornilov foi frustrada sem derramamento de sangue, pois seus cossacos o desertaram.
Em 20 de Outubro (anunciado em 26 de Setembro) tomou lugar o Segundo Congresso Pan-Russo de Sovietes, por iniciativa dos bolcheviques, a despeito de que apenas 8 de 169 sovietes tenham expressado apoio a este. As eleições para a assembleia constituinte estavam próximas, e aparentemente os bolcheviques pretendiam ofuscá-la e tomar-lhe o poder com uma reunião paralela por eles controlada. O Comitê Central denunciou a manobra, mas repentinamente e sem explicação, a aprovou em 17 de Outubro. Em 6 de Outubro, com o avanço alemão ameaçando Petrogrado, o governo planejou evacuar a cidade. O Comitê Central foi contra. O plano foi abandonado. No dia 9, o Soviete votou a favor de um Comitê Militar-Revolucionário (CMR) que o protegesse de possíveis golpes no estilo de Kornilov. Na prática, entretanto, esse comitê foi pouco mais que uma fachada para a atividade dos Guardas Vermelhos. Na noite de 21 de Outubro, o CMR tomou o controlo da guarnição de Petrogrado em nome da seção dos soldados do Soviete. O comandante do distrito, Coronel Polkovnikov, se recusou a ceder o comando, no que foi condenado publicamente como "contrarrevolucionário".
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